terça-feira, 9 de outubro de 2007



Decerto, uma certa dose de tristeza banha de magia o dia, graças a Deus, finalmente é dia. A noite cessou seu caminhar lento e desnorteador em mim, a noite tira o ar da gente, apavora, faz despencar o corpo em agonia e fervilhar a alma em lembranças. Não adormeço mais em meu sono, o espaço gigantesco que ficou entre nossas vidas é minha insônia, a ocupação do dia me distrai, porém o silêncio da noite e o vazio da casa enlaçam meu corpo como se fossem milhares de tentáculos, tudo grita seu nome. Eu não mais recordo, vivo todas as nossas horas novamente, há muita razão em shakespeare "quem vive uma dor do passado no presente, cria uma nova dor e sofre novamente". Na noite não tenho mais presente, revivo de todos os modos o que não há mais. Não durmo, passeio na memória da vida sofrivelmente.
Com o seu tom sombrio, o quarto de dormir serve apenas de molde para a saudade, o porta-retrato sobre o raque do abajur insiste em mostrar como nossa história sorria junta, os quadros na parede emudeceram desde que você saiu, os lençóis e o travesseiro que acolhiam com cumplicidade nossos corpos atados, doem como chumbo sobre a costela e a cabeça, vejo sobre o carpete caminharem delírios e fagulhas, visões desordenadas e vestigíos de nós dois.
Desculpe, tenho de ir embora, vou cumprir o meu ofício diário, lá terei comigo a magia da sua falta presente e lá será mais feliz minha tristeza, depois volto para aqui cumprir minha rotina de ser sem você, a noite reserva a morte de tudo, a noite com sua eternidade mata lentamente, pena não poder tirar a escuridão da noite, pena mesmo não poder tirar de mim você.